domingo, 25 de março de 2012

Metade - Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho 
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito 

Não me tape os ouvidos e a boca 

Porque metade de mim é o que eu grito 

Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe 

Seja linda ainda que tristeza 
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada 
Mesmo que distante 
Porque metade de mim é partida 
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo 

Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor 
Apenas respeitadas 
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos 
Porque metade de mim é o que ouço 
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora 

Se transforme na calma e na paz que eu mereço 
Que essa tensão que me corrói por dentro 
Seja um dia recompensada 
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso 

Que eu me lembro ter dado na infância 
Por que metade de mim é a lembrança do que fui 
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 

Pra me fazer aquietar o espírito 
E que o teu silêncio me fale cada vez mais 
Porque metade de mim é abrigo 
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta 

Mesmo que ela não saiba 
E que ninguém a tente complicar 
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer 
Porque metade de mim é platéia 
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada 

Porque metade de mim é amor 
E a outra metade também.

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